Por: Cláudia
O médico Drauzio Varella escolheu a
corrida como impulso para ter disposição para tocar seus múltiplos projetos.
Maratonista há 22 anos, ele lança agora um livro contando sua experiência nas
pistas e ruas.
Certo dia, o médico paulistano Drauzio
Varella cruzou com um conhecido de colégio que não via havia muito tempo.
Daquela conversa arrastada, um comentário do amigo o marcou: “Ano que vem, 50 –
idade em que tem início a decadência do homem”. Drauzio, que completaria meio
século de vida no ano seguinte, ficou intrigado. Afinal, sentia-se bem, corria
ocasionalmente e estava sem fumar fazia 13 anos. E, principalmente, ainda tinha
muitos projetos e desejos a realizar. Resolveu, então, propor um desafio a si
mesmo: correria a Maratona de Nova York dali a um ano. E começou a treinar.
Hoje, aos 72, o médico é um maratonista com currículo invejável e já viajou o
mundo atrás de provas de 42 quilômetros: esteve nas de Buenos Aires
(Argentina), Boston e Chicago (Estados Unidos), Berlim (Alemanha) e Tóquio
(Japão), entre outras. Autor de livros como Estação Carandiru, que lhe rendeu o
Prêmio Jabuti de Não Ficção, acaba de lançar Correr, em que oferece informações
médicas sobre a corrida e relata sua experiência com a atividade. Com
franqueza, no livro admite que não é nada fácil deixar a preguiça de lado para
praticar esportes e reafirma a necessidade de uma mudança de hábitos para que
possamos desfrutar bem a vida e envelhecer com saúde. “Envelhecimento não tem
que ser igual a doença. Um dia todos vamos ficar doentes e morrer, mas isso não
precisa acontecer aos 40 anos, nem aos 50”, diz. Equilibrando na agenda as
obrigações como médico, escritor, voluntário em presídio, pesquisador,
celebridade na TV e, claro, maratonista, Drauzio arrumou um tempo para conceder
esta entrevista exclusiva a CLAUDIA, que aconteceu em um sábado, às 8h30 da
manhã.
O
senhor já correu hoje?
Não. Machuquei o pé na maratona de
Boston, em abril. Não posso correr ainda por mais algumas semanas, mas enquanto
isso subo os 14 andares da escadaria do meu prédio até o meu apartamento.
Isso
não faz mal aos joelhos?
Subo pela escada e desço pelo elevador
justamente para não forçá-los. Depois, subo de novo. É um exercício
maravilhoso.
Os
joelhos são um alvo fácil quando ouvimos críticas à prática de corrida. Correr
realmente os destrói?
Isso é um mito. Se você está obeso, não
faz exercício há anos e se põe a correr, é lógico que vai fazer mal. Geralmente
são essas pessoas que têm os maiores problemas com a prática – inclusive nos
joelhos. Pesquisas mostram que as cirurgias nessa parte do corpo e nos quadris
são muito mais comuns em quem anda do que em corredores. E isso acontece por
várias razões. Uma delas é que, embora na corrida cada passada aumente o peso do
corpo em duas a três vezes, você fica com o pé muito menos tempo no chão, então
o impacto dura pouco. Além disso, esse movimento de estica e volta acaba por
fortalecer as articulações. É parecido com o que acontece com o músculo que,
conforme contrai e descontrai, cresce e fica mais forte.
Uma
pessoa que está acima do peso precisa emagrecer antes de começar a correr?
Depende muito de quanto acima do peso
ela está. Com poucos quilos a mais, ela pode começar devagar, tomando cuidado.
O problema é quando ela está completamente despreparada e sai correndo de uma
vez. Eu sempre recomendo o bom senso para os pacientes. Todo mundo pode correr,
depende de como faz isso. Uma estratégia inteligente é começar andando e ir
testando: correr 100 metros e continuar na caminhada; quando se sentir melhor,
corre mais 200, e assim vai.
Pesquisas
mostram que no treinamento para as maratonas os corredores têm melhoras na
saúde, mas que os riscos de morte aumentam durante a prova, quando o atleta
força demais o corpo. Concorda que participar desse tipo de competição pode
fazer o atleta perder a noção do limite?
É muito pequeno o número de mortes em
maratonas. Mas é verdade que você perde um pouco a noção. O Vanderlei Cordeiro
de Lima, aquele atleta brasileiro que foi agarrado na Maratona de Atenas, diz
que nós, maratonistas, temos maior resistência à dor que as outras pessoas. É
verdade. Normalmente, quando sente uma dor você para, toma cuidado. Já no calor
da maratona é muito difícil parar porque você fica naquele ânimo. E foi até lá
pra correr, não para andar.
Participar
de maratonas é saudável?
Do ponto de vista da saúde, não há
nenhuma necessidade de correr 42 quilômetros. É uma onda em que alguns entram.
No meu caso, não faço isso porque acho que é ótimo. Nem sei se é tão bom assim
para o corpo. Eu faço porque me impõe a disciplina de treinar. Trabalho muito
e, se não tenho a obrigação de acordar e correr essa distância toda, fica
difícil levantar às 5 horas da manhã, vestir um calção e sair correndo. Isso
não é natural do homem.
Assim
como não é natural desperdiçar energia.
Sim. Por isso que é muito duro conseguir
praticar uma atividade física regular. Você imagina um homem das cavernas levantando
de manhã para sair correndo à toa? Só se fosse para ir atrás de caça, fugir de
um predador. Caso contrário, ele ficava parado, quieto, economizando energia.
Não havia alimentos suficientes disponíveis para manter um corpo com esse gasto
energético inútil.
O
senhor escreve que corre na rua, no centro de São Paulo. Perde quem treina em
academia?
Quem corre em esteira está fazendo um
exercício excelente da mesma forma. Eu gosto de andar na rua. Nasci no Brás
(região central de São Paulo), fui criado correndo pelo bairro. Esse é o
momento do dia em que eu tenho silêncio. Não uso fone de ouvido durante a
prática. Na academia, a música fica tocando alto. Para mim, não é legal, não me
descansa. Mas tem gente que está acostumado. Exercício você tem que fazer do
jeito que dá, que consegue e que gosta – porque, se já é difícil manter a
disciplina e fazer com regularidade gostando, imagine sem gostar.
E
o corpo não vai lhe pedir para levantar da cama, não é mesmo?
Pelo contrário. Temos mil razões para
ter uma vida sedentária, e é por isso que a maioria da população não pratica
esportes. Mas não dá para aceitar isso. A vida sedentária faz muito mal, não
fomos feitos para ficar parados. O corpo humano é como uma máquina que foi
desenhada para o movimento. Do contrário, você vai lamentar.
Muitos
adultos têm problemas de saúde que poderiam ser evitados com a prática de
esportes?
Sim. As pessoas são sedentárias,
engordam, têm pressão alta. Metade dos brasileiros acima dos 50 anos é
hipertensa, precisa de remédio para controlar a pressão. O número de diabéticos
aumenta sem parar, é assustador. A vida vai ficando complicada. O ser humano
até 25, 30 anos vai bem. Mas, se quer ter uma vida plena, precisa de mais
cuidado. A natureza não planejou o homem para viver o tanto que nós vivemos
hoje em dia. As pessoas morriam com 20 ou 30 anos, isso era o normal. Queremos
durar o máximo possível sem investir nada, achando que o corpo é um presente de
Deus e que podemos usar e abusar dele do jeito que acharmos melhor. Não é
verdade.
O
que mudou na sua vida depois que começou a correr?
Em primeiro lugar, ganhei mais
disciplina. Quando comecei a treinar para maratonas, tive que estabelecer uma
rotina. Do contrário, não conseguiria acordar cedo para me exercitar. Depois, o
fato de propor e alcançar uma meta difícil, seja ela qual for, traz uma
sensação de autoconfiança muito grande.
O
senhor virou maratonista aos 50 anos, quando muita gente já está desacelerando.
Faz diferença?
Comecei atrasado (risos). Mas isso me
deu um entendimento mais claro do processo de envelhecimento. Ensinou-me a não
levar em conta a idade cronológica. E isso vale não só para a corrida mas para
outros desafios na vida também. Quando me proponho um trabalho ou uma tarefa,
avalio se tenho condição física de realizá-los, se tenho disposição e se aquilo
me interessa. Jamais penso se estou velho demais. Nossa tendência é considerar
que por causa da passagem dos anos perdemos a condição de fazer certas coisas.
E isso independe da idade: há quem tenha essa sensação aos 80, outros aos 40
anos. Assim, parece que a fase mais produtiva da vida, justamente quando você
podia aceitar mais desafios, já passou.
O
senhor pensa em parar de correr?
Não. Mas sei que uma hora vai ser
impossível continuar. Acho que, enquanto eu tiver força, condições, disciplina
e saúde, vou correr porque virou uma coisa muito importante para mim. Não só
por saber que cheguei a essa idade sem tomar um remédio, com a saúde ótima, mas
também do ponto de vista psicológico. Sou muito agitado e ansioso, quero fazer
tudo logo e, quando fico uns dias sem treinar, pioro. A corrida é um
antidepressivo poderoso. O corpo libera substâncias químicas que agem no
sistema nervoso central e, além do prazer, provocam aquele relaxamento típico
do exercício. Você toma um banho e sai com a sensação de que é capaz de
resolver qualquer problema. Dá uma autoconfiança muito grande. No dia em que eu
não puder fazer isso, vou sentir muita falta.
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Amo muito correr, so quem corre e que sabe a satisfacao.
ResponderExcluirEu confirmo! Só quem corre sabe o quanto é bom correr!!
ExcluirCorrer faz bem ao coração, portanto pratique exercicios fisicos e viva melhor!!
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